sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Marion.

"... quando sou mais que sou, feliz eu fico e isso dura apenas um piscar de olhos para lembrar que essa não é a razão. Então paro e penso. Vejo o quão mentirosa eu possa ser, pois minto a mim mesma. Os meus pensamentos me iludem. Porém, a lucidez vez ou outra aparece e força a abrir a mente quanto às minhas atitudes. Quando vejo em ti o mesmo comportamento, recrimino primeiramente (quantas vezes te recriminei por ser quem é). Então, depois de uma pausa, concluo que não é assim que temos que ser, embora estejamos fadados a vestir esa roupa. Recrimino e me compadeço. Rezo. Não rezo por "Deus" nenhum, porque cada um tem a fé que acredita. Eu rezo por ti, por mim. No final, rezo por quem não vejo. Não sou mais que tu e nem és mais que mim. No ato do puro egoísmo, esqueço o humanismo em algum lugar do meu corpo. Quando tudo passa e eu o  busco, por vezes não o encontro. De tão mal usado, perde-se. Porque cada ato teu e meu, esconde o melhor das pessoas. Não quero perdê-lo, então paro e penso. Nada é meu, nem o mundo é seu. O quão diferentes somos para querermos sermos mais? Eu sei, aprendi tristemente que somos mais quando somos todos juntos..."

Marion, por ela mesma.
" Meus pensamentos são livres. Eu os apresento e os discuto. Eles podem ou não voarem. O limite é sempre questionável. "

sábado, 16 de julho de 2011

O amor nos tempos do coléra


" ... pois tinham vivido juntos o suficiente para perceber que o amor era o amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso quanto mais perto da morte."


                                                                                

sábado, 18 de junho de 2011

      Algumas palavras só complicam a vida. 
Promessas são para poucos.
A essência do presente, eu me baseio.
 H.a
    

     Vejo as bolinhas brancas da minha saia. Elas se mexem com o vento que entra pela porta da varanda. O mesmo vento que joga meu cabelo fortemente contra meu rosto. Estou escutando um blues aconchegante e bebo a minha primeira xícara de café do dia. Observo as inúmeras fotos na parede com tantos rostos desconhecidos e tantas décadas emolduradas. Sorrisos congelados, gargalhadas que ecoam nos meus ouvidos, mesmo não as ouvindo. O café quente quase queima meus dedos através da fina porcelana. E imagino-me no lugar -instante - daquelas pessoas que olham pra mim. Será que a festa da primeira foto foi tão boa quanto parece? Aquele beijo foi espontâneo e apaixonado? E aquele sorriso foi por algum presente? Uma surpresa. Talvez.
      A música pára. Posso ouvir o vento lá fora irritado. Você acorda. Eu acho que meu silêncio te acordou. Estou sentada no seu lado, no sofá. Você está deitado. Olho pra você acordando. Vejo só um olho por cima da almofada, espreitando-me. E eu fico ali, olhando seu olho tão negro, como a cor do meu café. Não penso em quase nada e, ainda, lá fora o vento passa levando embora as folhas secas. Algum carro ao longe buzina. Outro disco começa a tocar e os olhos na parede continuam me fitando. O cheiro de café impregna, o vento o espalha. Eu continuo te olhando. Você também continua me olhando. Então respondo, sem pensar muito, sem sentir muito, só o presente me cercando, só você me observando...só, só...
     ─ Te amo agora. Promento te amar nesse momento. 
      ─ Pra mim basta.
      A música continua a tocar. Sem pressa, o mundo passa lá fora. Aqui, eu descomplico a vida. Fecho os olhos. Paro de pensar. Só sinto. 

segunda-feira, 23 de maio de 2011


" Nossos destinos poderiam ser esses ou outros totalmente diferentes, porque o fim que levamos não ficou registrado em nenhum lugar. Talvez nem sequer tenhamos chegado a existir. Ou talvez sim, ninguém percebeu nossa presença. Afinal de contas, sempre estivemos por trás da história, ativamente invisíveis naquele tempo que vivemos entre costuras."
                                                                                O tempo entre costuras

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Um minuto de silêncio.

    E vou fazer um minuto de silêncio. Para mim e para você. Vou fazer um minuto de silêncio pelo que éramos quando crianças. Por todos aqueles brinquedos deixados de lado e não mais usados. Pelos meus livros e filmes preferidos. Li e revi inúmeras vezes e, por fim, esqueci-me deles. Pelas músicas que eu cantava e não canto mais. Vou fazer um minuto de silêncio pela menina e o meninos que fomos. Todos crianças.  Pelos nossos sonhos infantis. Porque achávamos que tudo era possível. Silêncio pela nossa ingenuidade, pois ela nos fazia enxergar outros planos. A tristeza era só temporária. O amor, ainda, era acreditado, embora - às vezes- distocido. Um minuto de silêncio por tudo aquilo que fomos e não somos mais. Por tudo aquilo que o mundo real nos tirou. O mundo real que parece mais irreal a cada olhar. Então, pedirei silêncio por aqueles velhos tempos: andar descalço na rua, brincar a tarde toda, mamãe e papai felizes, desenhos e escola. Por chorar por qualquer bobagem e sorrir por qualquer pilhueta. Pelos avós que tínhamos, férias longuíssimas e um natal tão distante. Um minuto de silêncio pelos nossos amiguinhos e companheiros de travessuras. Afastamo-nos.
    Absoluto silêncio: por aquilo tudo. Achar que nunca cresceria. Pensar que estaríamos protegidos por um simples cobertor. Que jamais sentiríamos dor e que seríamos eternos, amados e felizes.
    Agora, eu peço silêncio por mim e por você.  Porque se ao menos fôssemos um milésimo do que fomos, não estaríamos nesse mesmo lugar agora. Não seríamos tão passivos e impassíveis diante de um mundo tão vergonhoso. Se fôssemos uma parcela do que éramos, talvez voltássemos a acreditar em coisas impossíveis; tentar mudar o imutável. Voltar a acreditar naquilo que nem sabemos mais o que é: a vida.
    Um minuto de silêncio por nós. Porque somos tão egoístas e só pensamos em nós. Uma triste irrealidade. Porque esquecemos, sobretudo, do que nós mesmos fomos.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

...:



 "... o tempo é a minha substância. Não há como separar o passado de mim. Muito menos o presente. O futuro, incerto e assustador, completa-me. As minhas palavras, os meus sentimentos e pensamentos, todo o meu ser, estão ligados firmemente ao tempo. É a criança que brinca na chuva ou o sol que, sorrateiramente,  entra pela janela; a fotografia envelhecida ou o simples correr das nuvens no céu. O tempo sou eu, com 20 e poucos anos. E será eu, com cabelos brancos e pele enrugada. O meu tempo passa por mim e nunca deixa ninguém para trás. Ele é como minha respiração: não a percebo, mas sei que está em constante trabalho...''


Por Hanna, em " Um pouco de mim "
Fragmento de alguns do meus inúmeros capítulos de uma história sem fim. Um dia eu junto tudo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

" Iguais e Diferentes "


Se a princípio, nascem iguais
e nos fins, morrem iguais
Diferença é moda
passa uma e outra, todos buscam
No entanto,
reprimo a diferença
quão contraditório é,
ser diferente e não aceitá-la
Um quadrado a que pertenço
exclui um igual a mim
Pois não é igual a mim
um ser que é diferente?



segunda-feira, 18 de abril de 2011

The Catcher in the Rye


" Há coisas que deviam ficar do jeito que estão. A gente devia poder enfiá-las num daqueles mostruários enormes de vidro e deixá-las em paz."

The Catcher in the Rye

quinta-feira, 10 de março de 2011

Um olhar normal

Uma garota sentada num banco do ônibus. Sozinha. Olhava pela janela a chuva lavando o céu da poluição. Trazia uma fisionomia triste. Pensamentos desolados. O dia correra, rotineiramente, sem imprevistos. Sem surpresas. Sobrara aos cantos, como o de costume. Nas ruas, as pessoas desviavam de seu caminho. Nem ao menos algum par de olhos fora levantado ao seu encontro. Quase perdera o ônibus por um simples acaso, paradoxalmente, comum: o motorista não a enxergara. Na traquilidade do lar, o quarto frio a esperava; o quarto frio e seus objetos frios. A cozinha e suas panelas, brilhantemente organizadas, sós. A sala. o sofá macio. A sala vazia. O sofá desocupado. O dia não fora bom. O dia nem fora ruim. Fora normal. Normal como as pessoas que sempre andavam às pressas. Os diálogos deixados de lado. Normal como o sol de manhã e a chuva ao entardecer. Isso tudo a aborrecia. A normalidade a fatigava. As coisas não mudariam com um simples respirar. O mundo seria o mesmo. As pessoas odeiam mudanças. Elas se amam e, depois, amam o resto. A garota era mais uma pessoa. Não era esgoísta ao desejar um fração da atenção que nunca lhe fora dedicada. Era igual a quem imagina que seja. Amava a si mesma, porque se não amasse ficaria ao léu. E amava o mundo. As outras pessoas, o céu, o tempo; o resto. Ao olhar pela janela, naquele dia no ônibus, viu seu rosto refletido. Ao vê-lo, vislumbrou mais profudamente outro rosto. Percebeu olhos, que não eram os seus, fitando-a pelo reflexo fraco do vidro. Os outros olhos, ao fitá-la, reconheceram na garota que fora descoberto. O par de olhos, rapidamente e disfarçadamente, desviou a vista para a rua e as ávores. Mas voltou a fitar ligeiramente a moça do banco da frente, agora cara a cara. Demoraram-se um no outro, por alguns segundos. E por fim, separaram-se. Cada olhar seguiu seu caminho. Assim, como a normalidade de tudo mandava. A garota sentada num banco do ônibus, já não tinha uma fisionomia tão triste, ou sequer, pensamentos desolados. Afinal, apesar de tudo, fora notada por um simples olhar normal.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Minha escrita é fraca

Minha linguagem é simples. Meu polegar, calejado. A escrita, melancolicamente, fraca. Sem rodeios. Não há rebuscamentos, muito menos exagero. As palavras exprimem o óbvio. Às vezes de maneira eloquente e outras vezes sutilmente. Escrevo como alguém prestes a afundar. Assim, minhas palavras gritam, sufocam-me, e emergem expressando somente parte do que sinto. Minha escrita é fraca. Tenho meus erros. Tenho defeitos. Mesmo assim, escrevo, escrevo sem parar. Afundaria se não o fizesse. Mas o sentido daquilo posto no papel, vez ou outra foge. E sem rodeios, rodopia. Até que me esbarro num ponto sensível. Epifanicamente, percebo que da escrita fraca, algo brilha. Uma palavra. Uma frase. Com simplicidade, mostra um sentido antes despercebido. Acaba dizendo o que achava impossível de se dizer. De um verso qualquer, obscurecido pela minha contida visão, surge algo que clama...aquilo que não sabia clamar.
Então, todos podem. Creio que podem falar de alguma forma os mais profundos pensamentos. Sem saber escrever, escrevi algo que fez sentido. Posso cantar, pintar, dançar, mesmo sem compreender, e dizer muito mais. Do mais simples, faço brotar vida. Minha escrita é fraca e não me importo. Não me importo em não saber escrever. Só me importo que posso dizer muito mais, sem saber escrever, a dizer limitadamente o mínimo sabendo escrever o mundo.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Divagações...

Da janela semiaberta, o sol, atrevidamente, penetra no quarto e ilumina, por meio de uma faixa de raios solares, minha escrivaninha, minhas folhas e parte de mim. Lá fora, o céu é limpo, sem nuvens. Ouço diversos sons como o latido de cachorro ao longe, o correr de um automóvel e ruídos de vozes ecoando pelos cômodos da casa. Há minutos sentada, não sei ao certo o que fazer, ou, mais detalhadamente, o que escrever. Nesse momento, as palavras me foram roubadas e tenho vagamente a sensação de que elas não conseguiriam dizer a confusão dos meus sentimentos, diferente de outrora, quando elas vieram a expressar além do que supus imaginar. O silêncio acaba reinando. Tudo parece traqnuilo demais, estável demais. Atrevo a pensar que, por alguns segundos, o tempo parasse. As folhas ficariam supensas no ar. O vento deixaria de fluir. Os sentimentos cessariam e as prováveis mentes alertas se esvaziariam de seus segredos. Tranquilas e leves. Será que passaria a perceber melhor a vida? Ouviria seus sussurros ou continuaria pensando na vida como um projeto do futuro? Essa vida que dizem por aí, não me parece combinar com a estabilidade de um mundo suspenso do tempo. Ela requer constantemente mudanças a cada milésimo de segundo. A vida e o tempo eternamente ligados. Com passos vagarosos e ritmados, tudo tem seu curso. Nunca pára. Nem quando desesperadamente queremos, as coisas continuam e deixam para trás palavras, promessas, sonhos,...pessoas. Dizia-me um ser solitário diante das grandes encruzilhadas da vida que ele sofria o agora, porque sabia que todos aqueles profundos sentimentos , em outros amanhãs, não seriam mais sentidos. Modestamente, falou-me de suas histórias e, sobretudo, dos seus grandes amores. Amores eternos, exclamava. Eternos em seus devidos tempos. Ele sofreu por todos esses amores que hoje são meras lembranças; pegadas na areia já apagadas. As mudanças acontecem. Sentimentos se esvaiecem. Palavras se perdem. Promessas não são cumpridas. Sonhos são esquecidos. E pessoas... pessoas apenas se vão. A transitoriedade de tudo me encanta, embora me amedronte muito mais. É só pensar que quase tudo que existe perece. Mas o que realmente existe?