sábado, 18 de junho de 2011

      Algumas palavras só complicam a vida. 
Promessas são para poucos.
A essência do presente, eu me baseio.
 H.a
    

     Vejo as bolinhas brancas da minha saia. Elas se mexem com o vento que entra pela porta da varanda. O mesmo vento que joga meu cabelo fortemente contra meu rosto. Estou escutando um blues aconchegante e bebo a minha primeira xícara de café do dia. Observo as inúmeras fotos na parede com tantos rostos desconhecidos e tantas décadas emolduradas. Sorrisos congelados, gargalhadas que ecoam nos meus ouvidos, mesmo não as ouvindo. O café quente quase queima meus dedos através da fina porcelana. E imagino-me no lugar -instante - daquelas pessoas que olham pra mim. Será que a festa da primeira foto foi tão boa quanto parece? Aquele beijo foi espontâneo e apaixonado? E aquele sorriso foi por algum presente? Uma surpresa. Talvez.
      A música pára. Posso ouvir o vento lá fora irritado. Você acorda. Eu acho que meu silêncio te acordou. Estou sentada no seu lado, no sofá. Você está deitado. Olho pra você acordando. Vejo só um olho por cima da almofada, espreitando-me. E eu fico ali, olhando seu olho tão negro, como a cor do meu café. Não penso em quase nada e, ainda, lá fora o vento passa levando embora as folhas secas. Algum carro ao longe buzina. Outro disco começa a tocar e os olhos na parede continuam me fitando. O cheiro de café impregna, o vento o espalha. Eu continuo te olhando. Você também continua me olhando. Então respondo, sem pensar muito, sem sentir muito, só o presente me cercando, só você me observando...só, só...
     ─ Te amo agora. Promento te amar nesse momento. 
      ─ Pra mim basta.
      A música continua a tocar. Sem pressa, o mundo passa lá fora. Aqui, eu descomplico a vida. Fecho os olhos. Paro de pensar. Só sinto. 

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