segunda-feira, 23 de maio de 2011


" Nossos destinos poderiam ser esses ou outros totalmente diferentes, porque o fim que levamos não ficou registrado em nenhum lugar. Talvez nem sequer tenhamos chegado a existir. Ou talvez sim, ninguém percebeu nossa presença. Afinal de contas, sempre estivemos por trás da história, ativamente invisíveis naquele tempo que vivemos entre costuras."
                                                                                O tempo entre costuras

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Um minuto de silêncio.

    E vou fazer um minuto de silêncio. Para mim e para você. Vou fazer um minuto de silêncio pelo que éramos quando crianças. Por todos aqueles brinquedos deixados de lado e não mais usados. Pelos meus livros e filmes preferidos. Li e revi inúmeras vezes e, por fim, esqueci-me deles. Pelas músicas que eu cantava e não canto mais. Vou fazer um minuto de silêncio pela menina e o meninos que fomos. Todos crianças.  Pelos nossos sonhos infantis. Porque achávamos que tudo era possível. Silêncio pela nossa ingenuidade, pois ela nos fazia enxergar outros planos. A tristeza era só temporária. O amor, ainda, era acreditado, embora - às vezes- distocido. Um minuto de silêncio por tudo aquilo que fomos e não somos mais. Por tudo aquilo que o mundo real nos tirou. O mundo real que parece mais irreal a cada olhar. Então, pedirei silêncio por aqueles velhos tempos: andar descalço na rua, brincar a tarde toda, mamãe e papai felizes, desenhos e escola. Por chorar por qualquer bobagem e sorrir por qualquer pilhueta. Pelos avós que tínhamos, férias longuíssimas e um natal tão distante. Um minuto de silêncio pelos nossos amiguinhos e companheiros de travessuras. Afastamo-nos.
    Absoluto silêncio: por aquilo tudo. Achar que nunca cresceria. Pensar que estaríamos protegidos por um simples cobertor. Que jamais sentiríamos dor e que seríamos eternos, amados e felizes.
    Agora, eu peço silêncio por mim e por você.  Porque se ao menos fôssemos um milésimo do que fomos, não estaríamos nesse mesmo lugar agora. Não seríamos tão passivos e impassíveis diante de um mundo tão vergonhoso. Se fôssemos uma parcela do que éramos, talvez voltássemos a acreditar em coisas impossíveis; tentar mudar o imutável. Voltar a acreditar naquilo que nem sabemos mais o que é: a vida.
    Um minuto de silêncio por nós. Porque somos tão egoístas e só pensamos em nós. Uma triste irrealidade. Porque esquecemos, sobretudo, do que nós mesmos fomos.